sábado, 7 de junho de 2014

poesia barata

tanta coisa importante na vida
e tinha de aparecer uma barata!

a barata vil
toda pernas e antenas
toda nojo, asco, esquiva

a barata inerte
se faz de morta
e povoa
minha insônia kafkiana e paranóica

barata tonta mulher barata
sem ponto nem vírgula
fugidia, escorrega por baixo da porta

os gritos gemidos
e a boca torta
serão de quem sente

ou mente?

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ONDAS




elas vêm e vão
contínuas e arrítmicas
heraclitianamente
sempre outras,
as ondas

elas pulsam
em doce espuma
ou ríspidos soluços

cacos, restos
grãos de areia
sempre outros
sempre novos misturados
ao que já é velho e quebrado

cascalhos, crustáceos mortos
algas invisíveis
folhas imprevistas
de improváveis plantas nem sempre aquáticas
em pernas de siri sem corpos

varrem a praia
clandestinos
insuspeitos

águas-vivas sem história
espinhos de ouriço sem dor
sem passado sem lembranças
moluscos baços
furtacor

as ondas vêm e vão
desde quando?
sempre, sempre...
quase pendulares
longe e perto e longe e perto
num embalo musical e hipnótico

a vida e a morte ali
tão perto
uma e outra sempre tendo
como intersecção mítica
apenas a suposição
do incapturável
tempo


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

MUDA PALAVRA MUDA



muitos sons muitas palavras
muitas letras muitas sílabas
muitos esses tantos plurais
num sibilo infinito zunindo em meus ouvidos

palavraspalavraspalavraspalavras
palavraspalavraspalavraspalavraspalavras
palavraspalavraspalavraspalavraspalavraspalavras
palavraspalavraspalavraspalavraspalavraspalavraspalavras
palavraspalavraspalavraspalavraspalavraspalavraspalavraspalavras

e tudo o que se quer
é um pouco de silêncio
de silêncio absoluto
vazio completo de sons
ausência de voz

instante mudo

enfim, mudo