sexta-feira, 13 de julho de 2012

PROUSTIANA




tanto por dizer
e não encontro as rimas

não acerto as assonâncias
soam sempre imperfeitas
minhas sinistras harmonias

estou prestes a desvendar o mistério maior:
o que torna humano os humanos?

mas, desprovida de palavras,
escorre-me por entre os dedos
essa vã sabedoria

como não sei dos sons
meu achado se desfaz
mera sombra
intuição
voo fugaz de borboleta transparente

ah, bem queria capturar o instante
cercá-lo de vidros
reter o tempo em redomas
trocá-las de ordem
inverter, embaralhar os dias
desfazer lembranças em sonhos
tecer de ontem, esperanças...

talvez assim recuperasse
algum gesto, um olhar antigo
uma canção, o cheiro de bolinhos
o som do mar da minha infância



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