segunda-feira, 22 de junho de 2009

âncora


quanto esforço para manter os pés sobre o caminho
e o olhar em frente e no lugar a mente

o esforço é maior que o corpo
peso indizível, esse do presente

falta-me a âncora a prender-me no agora
uma dificuldade aportar aqui

há sempre esse ponto em que
de mim
quero ir-me embora

procuro, ávida, um soluço a me servir de basta
uma sombra a me servir de escora

enquanto isso
a vida passa
e o melhor de mim me ignora
'

3 comentários:

Thales Rafael disse...

Que poesia angustiante. Que força em sair do particular e chegar ao universal. Acredito que o presente, o desconhecimento recorrente do que somos, o inevitável após a curva sempre comprimiram o corpo e a alma dos homens. Escritos sobre esse vazio são muitos, mas em geral, é difícil chegar a esse tema através da simplicidade. Gosto muito de suas poesias.

Renata de Aragão Lopes disse...

'há sempre esse ponto em que
de mim
quero ir-me embora"

Só não podemos nos fixar nesse ponto...
Lindo poema!

Beatriz disse...

Belíssimo,
Imagem forte de duas mãos na estrada: pelo espelho a vida passa, a paisagem tudo passa. Ir-se por dentro esse susto misturado ao vazio. Avançar para o futuro de costas . Ah, sei lá, Márcia. Sua poesia sempre provoca em mim muito sentimento. Você me afeta , no melhor dos sentidos. O da arte boa e verdadeira;)
Saudades