sábado, 6 de junho de 2009

salva-me!


andar seguir andar
é um imperativo
uma força ou uma necessidade?
vem de onde, afinal, essa vontade
esse impulso que desassossega e agita?
além do corpo, além de mim, além do outro
retorce o mundo a minha volta
sussurra versos, alucina, grita
palavras mortas em minhas veias vivas
e em meu sangue as rubras letras vão compondo
temores, sonhos, surpresas nuas e desejos
pulsos cortados, olhos sem brilho
num lampejo escorre a vida no papel manchado
do que, vermelho, seria marca de ferida ou beijo

meu verso vai, solitário e forte
afastar o mal que já não vejo
que, sorrateiro, me conduz à morte

meu verso vai
segue intrépido sempre em frente,
que depois do abismo há de vir o ar
e lá em baixo a imensidão de um mar
em que estarei descolorida e amorfa
mas ainda viva e transparente
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imagem: Le Double Secret, René Magritte