sexta-feira, 14 de agosto de 2009

(sem) tido

dentro dos livros dentro dos olhos no fundo das bocas no canto dos corpos
tanto procurava e procurava
e no meio das palavras perdidas aqui e ali encontrava uma sobra um pedacinho
um quase nada esquecido e desses restos miudinhos ia compondo um som difuso melodia dissonante tecida em travesseiros perdida entre pranto e cobertores
em quiálteras confusos amontoados acordes uns pianíssimos outros fortes
disparatados stravinkys no chão do quarto e da vida espalhados como tinta
como borrões insones amorfos sem sentido
tempo indo escoando escapa
do cenário caótico à ópera bufa tragicomédia absurda
sem script sem diálogos sem anticlímax ou trilha sonora
atores nus espelhados imperfeitos riem-se uns dos outros-si-mesmos
costas tortas barrigas pelos gorduras flácidas e peitos
retalhos de matéria viva desgastada descomposta decomposta
derretendo-se aos olhares fundindo-se em lava viva
buscando loucamente uma saída
pelos vãos estreitos de silêncio entre as palavras
pelos becos hesitantes e suspiros boquiabertos
entre um a e a outra letra na infinitesimal quietude
escondida entre dois pontos qualquer coisa qualquer data
qualquer ilusão de motivo que justifique comédia ou farsa
que permita ao fim do drama uma coda alinhavada

tudo tanto tanto muito mais e mais e tanto ainda...

tudo isso para

nada

`

2 comentários:

BAR DO BARDO disse...

um trajeto
pode ser de espuma
como de concreto





(não consigo comentar, sinto)

Renata de Aragão Lopes disse...

Surpreendente, Márcia!
Fugiu por completo
ao estilo usual
de sua escrita.
Que eu me lembre,
nem citou,
desta vez,
o mar
- que ama tanto
ou mais
que Cecília Meireles! : )

Achei bonito.
Buscar loucamente uma saída
entre os vãos estreitos
de silêncio
entre as palavras...

E tanto esforço
para quê?
Para nada.
Sim... Sem-tido.

Um beijo.