quarta-feira, 1 de julho de 2009

Pensando na Vida: um médico com P maiúsculo


Dizem que os médicos são os piores pacientes. Rebeldes, indisciplinados, questionadores. Por isso mesmo, ser médico de colega não é pra qualquer um. Quando adoece, um médico quer o melhor. O mais competente, o mais atualizado, o de melhores resultados cirúrgicos, the best entre the best. Escolha sempre difícil, pois os currículos parecem ter cada vez mais páginas. No final das contas, depois de ouvir três ou quatro experts, se decide. E essa decisão acaba por ser tomada a partir de algo que não consta dos memoriais: o contato, a boa e velha relação médico-paciente, que tanto martelamos nos ouvidos dos nossos alunos.

Claro, é sempre melhor estar do outro lado da mesa. Mas, no momento em que uma doença nos deixa frágeis, temerosos, perplexos diante do sem-sentido da vida, é um alívio encontrar no colega médico a quem entregamos nossa saúde um olhar que vai além da competência técnica. Um gesto que diz algo como: vamos lá, estou com você, vai dar tudo certo. Nenhum cirurgião pode saber dos resultados antes de dar alta ao seu paciente. Esse gesto, portanto, não depende do anatomopatológico, não está nos guidelines, não se baseia em evidências. É um laço humano. É um laço amoroso.

Encontrar um médico que nos trate assim, nos dá, a nós, pacientes médicos chatos e rebeldes, além de um tratamento, uma lição. Uma lição sobre o ser médico, sobre o quanto somos transparentes diante daqueles que nos procuram, como é possível decodificar rapidamente, intuitivamente mesmo, esse algo-a-mais que se chama compromisso. Um médico assim, é mais que um doutor. É, de fato, um Professor.

Um grande beijo, Professor Pinotti, com toda minha gratidão.


O Professor José Aristodemo Pinotti faleceu na madrugada desta quarta-feira, 1 de julho, aos 74 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Um comentário:

Renata de Aragão Lopes disse...

Belíssima homenagem, Márcia!

Os bons médicos, aqueles que conjugam conhecimento e humanitarismo, tornam-se, de fato, mais que referências: inesquecíveis!

Um beijo.