segunda-feira, 28 de maio de 2012

ZERO


estreito
a luz é pouca
há neblina
o som tão vago
sem sentido
a voz mais rouca

vertigem, vertigem
abismo infinito
do universo do avesso
ecoa o grito

tudo escuro
muito escuro
sem lado, sem cima, sem baixo
sem antes
nenhum futuro
tempo estático

agora apenas
sempre o mesmo
sem destino
voa a esmo
talvez corpo
talvez pouco
tudo morto

domingo, 15 de abril de 2012

ESPELHO


tincas rachaduras                                                                                                   
cicatrizes
umas fendas
ou talvez apenas
marcas de tempo
sinais de passagem
escoamento
da vida
sempre
absoluta
totalmente desprovida de sentido



domingo, 25 de março de 2012

SECA


algo dentro liquifica
escorre na parede do corpo
umidade chama hera
cria mofo
infiltra muda

água iridescente
e salgada
flui da pele
cai dos olhos
encharca a alma despovoada

fluido vivo
sangue fértil
a terra morta desnuda
há tanto tempo devastada

em pleno líquen, flora
cercada de sombra
ninféa antiga
meio disforme
já desbotada

avesso da vida