quinta-feira, 31 de julho de 2008

Atrapalhadas

Marcia Szajnbok


Atrapalhada, lado A

Dormiu mal, acordou atrasada. Vestiu qualquer coisa, tomou num gole o café requentado. Irritou-se com o marido: maldita mania de apagar cigarros no pires!No elevador, a vizinha-perua, maquiada a essa hora como se fosse a uma festa black-tie! Quem ela pensa que é, afinal, Gisele Bündchen?Na saída, escorregou diante do porteiro e da vizinha. Quis chorar.Atabalhoada, não enxergou o moço com a pilha de papéis na mão. Espalhados pela calçada, os documentos dele se misturaram ao conteúdo caótico de sua bolsa de mulher. Na confusão, um breve encontro dos olhares. Corou. Desculparam-se. Sorriram.Seguiu em frente, transformada na própria Gisele na passarela.


Atrapalhada, lado B

Finalmente ia conferir se o tal Papai Noel existia mesmo. Se estivesse lá o trenzinho elétrico tão ansiosamente esperado, era prova de que sim, e pronto! Ninguém o convenceria do contrário!O coração disparou. Sob a árvore um pacote grande, papel dourado, laço vermelho imenso. Ele veio, pensou, ele existe e eu sou feliz!Toda a manhã o pai passou montando trilhos. Postos no lugar locomotiva e vagões, chegaram os primos. Uma revolução aqueles primos! A prima menor, atrapalhada, entrou correndo, sem olhar por onde andava.Pisou no trilho.Emudecido e pálido, sentiu a dor da infância terminada.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Insônia

Marcia Szajnbok


Pálpebras pesadas, olhos ardendo
Todo o corpo quer dormir menos o pensamento:
Trechos do dia, diálogos, cenas
Imagens, flashes, momentos
Passagens, buzinas de engarrafamento...
Pensa alto, pensa caótico
Autômato
Independe da vontade, se rebela, escapa
Deseja, imagina, fantasia
Aguça no corpo todos os sentidos...
Cria fatos, supõe lembranças, articula soluções
Conta seqüências estranhas, repassa obsessivas canções...
E enquanto isso a hora passa.
Lá fora, uma sirene atrai-lhe por segundos:
Polícia? Bombeiro? Ambulância?
Os vários relógios da casa batem desencontrados
Desse compasso binário das batidas do coração
Todo o corpo, toda a cama, todo o quarto
O mundo todo vibra em cadenciada ressonância...
O corpo fica comprimido por esse imaginário ruído
E cansa.
E o pensamento pensa, pensa, pensa...
Tece novelas, antecipa poemas, sonha acordado
– o que haveria esta mulher de sonhar dormindo? -
Ferozes assassinatos, doces cenas de amor infindo...
Olhos fechados, já não há limite entre o que ouve e imagina
O mundo povoado por fantasmas
Mortos queridos, culpas, remorsos
Inusitadas sombras atrás das cortinas...
Taquicardia – quem ousaria abrir os olhos?
A angústia cresce, exaure o corpo que pede paz
E se vira, e se mexe, e se estica, e se dobra
E parece dez vezes maior do que era antes de deitar.
Tem ímpetos de levantar-se
Acender luzes, ler, tomar um vinho...
Mas nada faz, emudece, fita o teto sem piscar
E se percebe, derrotado, mero refém das idéias
Que o conduzem, impotente e inerte
Por tão tortuoso caminho, por tão pedregosa estrada.
Insônia é isso: entrega total ao mundo do pensar
Onde há uma vida de vale-tudo
Que recobre o curto intervalo
De uma infinita madrugada.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Delta T


Marcia Szajnbok



Tempo zero:
Olhos nos olhos, ambos estáticos. Devagar, ele pensa, devagarzinho para não assustá-la... Não queremos que ela fuja, certo?... A mão direita parada, a esquerda desliza sutil pela parede, lenta, quadro a quadro... Num átimo, a alcança! Tão rápido... Sentia seu pequeno corpo frio sob os dedos, mas o olhar não fora capaz de acompanhar o movimento. Agora lá estava: presa. Sua. Sorria, gozando a doçura da vitória sobre o mais fraco. Covardia? Por certo, não. Poder, talvez, um treino, um jogo, um faz de conta... Perdido na imagem de si como rei, ou general, ou ditador, não notou que ela era capaz de tão estratégica fuga: deixando para trás um pedaço de si, um resto de corpo mesmo que ainda vivo, escapara... E agora, tudo o que tinha nas mãos era isso: um resto. Um pedaço de cauda de lagartixa que o menino, derrubado de volta à realidade, atira longe, tomado de raiva e despeito. Para que serve afinal um bicho desses? , pensa, em frustrada tentativa de consolo. No íntimo, porém, não se engana. Foi-se a lagartixa, foi-se o resto da cauda abandonada, ficou a dor. Um ponto doloroso no meio do peito, atrás do osso... Estranho osso de nome esterno, justo esse que ficava tão dentro... Tentou jogar bola, saiu a andar, comeu doce de leite. O dia terminou sem surpresas. À noite, chorou sozinho, escondido pela escuridão até de si mesmo. Onde já se viu, menino chorar por uma coisa dessas? Mas chorava, chorava porque doía, doía imensamente aquela falta, aquela partida sem adeus.

Tempo x diferente de zero:
O olhar fixo sobre a porta fechada. Imóvel, recortado do ambiente, não se descuida da expectante entrada. Mas ela não vem. Ela nunca chega. Por mais que procure disfarçar de si a própria certeza, ele sabe, convicto: não chegará. Não voltará. Nas mãos apenas um pedaço de pano azul, o resto, a sobra morta do que fora corpo e agora pura ausência. Um pedaço de pano-cauda, da mulher-lagartixa para sempre perdida. Dor.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Mãos Dadas

Autocaricatura de Carlos Drummond de Andrade (Foto: Arte/Divulgação)

Carlos Drummond de Andrade



Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.



Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.


O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.



[Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em Itabira, MG, e viveu grande parte de sua vida adulta no Rio de Janeiro. Seu primeiro livro, Alguma Poesia, foi publicado em 1930. Sua produção é contínua, destacando-se Brejo das Almas (1934), Sentimento do Mundo (1940), A Rosa do Povo (1945), Claro Enigma (1951), Boitempo (1968), Corpo (1984) entre muitos. Farwell, publicado postumamente, foi o último livro organizado pelo poeta. Embora tenha sido influenciado pelo modernismo, sua obra escapa às classificações. Drummond criou um estilo próprio, criando uma das obras mais significativas da poesia brasileira do século XX a partir da dialética indivíduo-sociedade, mundo interno - mundo externo, e questionando em seus versos a existência e a própria poesia.]

Descobertas


Marcia Szajnbok


Na primeira vez que subiu aquela escadaria, de mãos dadas com a mãe, João sentiu medo. O lugar lembrava uma casa mal-assombrada, dessas que aparecem nos filmes: pouca luminosidade, portas altas, a escada de madeira produzindo estranhos ruídos sob os pés. Depois de meses desempregada, Bete finalmente conseguira um trabalho: faxineira numa escola de musica. Maestro Manfredo, o dono do conservatório, concordara com que Bete levasse consigo o filho pequeno, desde que o menino não atrapalhasse as aulas. Foi assim que João chegou ao universo da música: assustado pelos fantasmas que a velha casa evocava, pelo tal do Maestro, que imaginava ser um velho narigudo cheio de verrugas e muito bravo, e pela mãe – esta, um perigo bem real quando se zangava com ele. João tinha apenas 5 anos, e aparentava ainda menos com sua baixa estatura e magreza, as pernas finas, e os dentes grandes e brancos aparecendo demasiadamente no contraste com a pele escura.
À medida que os dias passavam, entretanto, João ia ficando mais à vontade. Descobrira um modo de passear despercebido pela escola: tirava os sapatos, andava de meias. Como todo o chão era de madeira, o garoto patinava nas tábuas largas e, assim silencioso, percorria todas as salas de aula como que invisível.
No que devia ter sido outrora um porão, havia um pequeno anfiteatro, onde os alunos tinham aulas de canto com o Maestro.
- Meninos, cantemos! O coração que canta não conhece tristeza! – era sempre com esse bordão e a batuta levantada, que ele dava início às sessões de cantoria.
Encolhido em alguma cadeira da última fila, João ouvia. Visto assim de longe, o Maestro nem parecia tão mau. Várias vezes em cada aula, ele interrompia, os alunos recomeçavam. E João ouvia. A partir de certo momento, seria capaz de cantar junto, mas só o fazia em pensamento, a voz da mãe com o indicador esticado em seu nariz, repetia-lhe na memória: - Nem um pio, entendeu bem? Nem um pio, senão você entra na piaba! João não sabia o que era uma piaba, mas pelo tom de sua mãe, não devia ser coisa boa.
No primeiro andar, havia a secretaria e duas salas de aula com carteiras e lousas. Ali os alunos aprendiam história da musica, análise, folclore, teoria musical, solfejo, harmonia. Esse vocabulário iniciático tornou-se familiar para o menino. O que ele mais gostava de acompanhar eram as aulas de solfejo: as mãos ritmadas batendo nas mesinhas, a fala acompanhando o ritmo:
- La-á-Dó-Lá-Si-í-Dó-Ré-Si-Sol... João repetia mentalmente essa linguagem estranha e monossilábica. Mesmo sem ter nenhuma idéia do significado daquele amontoado de sons, achava bonito o grupo todo declamando aquela ladainha em uníssono.
No entanto, o melhor estava no andar de cima. Era preciso vencer a escadaria rangente, mas sempre valia a pena. Eram três salas, duas menores e uma grande, onde aconteciam as aulas de instrumentos: violão, violino, violoncelo, flauta e piano. Na sala maior, João encontrou um tesouro.
Certa vez viu a porta aberta, ninguem lá dentro, e entrou. Achou curioso que, numa sala tão ampla, houvesse um só móvel no centro. Ele era engraçado. Enxergou ali uma cabeça disforme: a boca ampla, dentes brancos e pretos num sorriso estático, a parte de trás com um formato irregular, como um crânio com a tampa aberta. Não resistiu. Puxou para perto daquela abertura o banco que ficava diante da boca, e espiou lá para dentro. Várias tramas de fios sobrepostos uns aos outros, pinos metálicos, tiras de feltro vermelho recobrindo pedaços de madeira de diferentes formatos. Era um quebra-cabeças incompreensível.
Ouviu vozes no corredor e passos que se aproximavam. Apavorado, João correu a se esconder atrás da cortina de uma das janelas. Respirava devagar para que ninguém notasse sua presença. E então, ouviu. Era um som límpido, suave, um som que parecia falar-lhe, lindo. Pôs um só olho para fora e viu que, diante do móvel estranho, uma menina mexia na grande boca aberta e, a seu lado, uma senhora lhe corrigia os erros. No final da aula, a professora indagou à aluna, se tinha gostado de tocar num piano de cauda. Era isso, então! Um piano, de cauda!
Depois que elas saíram, João se aproximou novamente. Encheu-se de coragem, e encostou um dedinho numa das teclas. Bem de leve e tão devagar, que não se produziu nenhum som. Desde então, sempre que podia, o garoto se punha em seu esconderijo atrás da cortina e acompanhava as aulas no piano de cauda. Do mesmo modo que acompanhava o solfejo e o canto orfeônico, aqui também ia aprendendo as musicas pela repetição. A diferença é que o piano não cantava, e por isso foi desenvolvendo um tipo de memória diferente, puramente musical, a seqüência melódica sem palavras, desvinculada de significados. E quando se via sozinho na sala, chegava perto e acariciava as teclas, maravilhado.
Um dia, inadvertidamente, apertou uma das teclas com mais força do que o habitual. O som produzido assustou-o, e não pôde conter uma gargalhada. Mas, cativado, repetiu o toque. E, o que ouviu, lhe soou de algum modo familiar. Tateando, foi apertando outras teclas, até que obteve um par, e os dois sons em sequência evocaram um trecho melódico. A partir daí, esqueceu a regra materna do nenhum-pio e despreocupou-se completamente. Depois do par, achou o terceiro som, e depois o quarto, e assim sucessivamente ia recompondo, por tentativa e erro, um pedaço de melodia muitas vezes ouvida na clandestinidade de seu posto atrás da cortina. Por instantes, o mundo se resumiu àquela sala: o menino, o piano, a musica. Como se, para lá das paredes, nada mais existisse. Por estar assim, tão absorto, demorou um pouco para compreender que vinha da porta da sala a voz que lhe interrogava:
- O senhor pode me explicar o que é que está fazendo aí?
João, paralisado, não conseguia responder. Parado na soleira, as mãos postas na cintura e o cenho caricatamente franzido, estava o temido Maestro.
- Toque de novo, pediu ao menino. A musica que você estava dedilhando, toque de novo.
João tocou, apesar do tremor que lhe agitava a mão. Sem saber o nome das notas que apertava, repetiu a sequência: Dó-Ré-Mi-Fa-Re-Mi-Do-Sol. E parou. Maestro Manfredo, então, segurou gentilmente o indicador do garoto e guiou-o até a próxima nota da série, outro Dó, uma oitava acima. Olharam-se nos olhos, o menino esboçou um sorriso tímido, e encontrou a continuação da melodia: Si-Dó-Ré-Sol-Lá-Si-Dó-Lá-Si-Sol-Ré... E as horas foram passando. João aprendeu que o banco podia subir até que estivesse numa altura confortável, que aqueles sons se chamavam notas, que cada uma tinha o seu nome, e que poderia apertar cada nota com um dos dedos, fazendo a mão deslizar ao invés de pular sobre o teclado. E descobriu, principalmente, que Maestro Manfredo não era um velho cheio de verrugas e muito bravo, e sim um professor paciente que, acima de tudo, divertia-se muito ensinando crianças.
- Você sabe como se chama essa musica que estamos tocando?, perguntou-lhe às tantas o Maestro. João não sabia. Achou muito estranho quando lhe foi dito que aquela era uma Invenção a Duas Vozes. Como se lesse seus pensamentos, Maestro Manfredo completou: - É claro que todas as musicas são invenções de alguem... mas esta aqui faz parte de uma coleção de invenções bem difíceis de se inventar! E os dois riram muito.
As lições se repetiram por algum tempo, mas João não se tornou concertista. Seu estudo de piano terminou quando a mãe conseguiu outro emprego, dois anos depois. Ao se despedir do Maestro, ele abriu uma gaveta cheia de partituras antigas. Remexeu, procurou, até que tirou de lá umas folhinhas amareladas, cheirando a guardado, onde estava escrito “Johann Sebastian Bach: Inventio 1 C-Dur BWV 772”. Preparando-se para fazer uma dedicatória, perguntou ao garoto:
- Como é mesmo seu nome todo? João... ?
- João Sebastião, respondeu o menino, João Sebastião Ribeiro.
Maestro Manfredo, então, abraçou-o afetuosamente e abriu um sorriso largo, que João nunca tinha visto naquele rosto. Seu significado, só compreendeu muitos anos depois. Mas, aquela imagem e o calor daquele abraço guardou para sempre, bem junto com a partitura, a dedicatória, e o amor pela musica.

domingo, 27 de julho de 2008

Continente

Marcia Szajnbok
Queria captar da palavra amor
Apenas a forma
O corpo nu
Desprovido de significado
(o tal do amor-conteúdo já foi tão abusado!)

Romantismo feijão-com-arroz
Vende-se barato em qualquer parte:
Todos se amam muito!
Se estão tristes, é por falta de amor...
Se são mimados, é porque houve amor demais...
Amor de novela, com violinos ao fundo
E pôr-do-sol de cenário
E juras, e lágrimas, e suspiros, e ais...

Não quero saber desse amor gasto!
Pieguices com colorido barroco:
Não dizem nada
Não têm consistência
Não resistem à primeira chuva
São tempestades de areia
Que turvam os olhos
Mas não aquietam o coração.

Recortarei do amor apenas o nome
O esqueleto
Um oco, buraco vazio
A ser preenchido
De algum modo inusitado
Um amor com assinatura
Amor-obra-de-arte
À imagem e semelhança
De um sonho
Inventado.

Um amor assim concebido
Poderia então dedicar
Com calma e delicadeza
Com gestos lentos e toques leves
A quem soubesse escutar, comigo,
A música infinita do silêncio
Compartilhado.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

estrelas


Marcia Szajnbok
.
de muito longe
há muito tempo
luz tardia no espaço lançada
agora umedecida
em reflexo abandonada
na superfície noturna do mar

um resto de brilho apenas
morta a substância
a energia pura reduzida
de matéria totalmente esvaziada

(lindas... vês?
e, vendo-as, sonhas?
- comigo... sonhas?)

sonhos vívidos
nos despertam pelo tato
ultrapassam as imagens,
têm gosto, temperatura, cheiro
no corpo adormecido
um toque, um afago, um beijo

apertamos os olhos
na ilusão ou inefável ensejo
de segurar dentro o sonho
na vigília transformado em desejo

(assim sou... assim és...
somos luz de estrelas
que em quase instante
num ponto qualquer do infinito
se encontram
se tocam
se fundem
e tornam incandescente o universo)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Abandono

L'ABANDON - CAMILLE CLAUDEL

Dois corpos nus
Homem e mulher no bronze escuro
Tocando suavemente a pele fria
Com desejo, temor e expectativa
No instante último antes de se consumar o abraço
Em que um não sabe do outro
Quão próximo chegaria...

Momento mágico que a escultura capta
- Como retê-lo no tempo real da matéria viva? -
O fio invisível do olhar aproxima bocas num quase beijo
O calor pressentido das mãos que chegam só perto
A sedução que promete,
A atração que procura superar a esquiva...

Dois corpos nus
Homem e mulher de sangue quente
No limiar do contato em que é preciso deixar-se
Para encontrar o outro que espera
Por sua entrega, e se entrega...
No ponto limite em que é preciso lançar-se
Na vertigem de seu gozo, e com ele goza
E sente.

Brincando with Cole Porter

Será que você ouve Cole Porter like I do?
‘Cause a voice within me keeps repeating you, you, you...
E como I’ve got you under my skin
Eu queria acreditar que, um dia, I could win

E porque pr’a mim, baby, you’re the top
Mais que o Coliseum e o Louvre Museum
E a Tow’r of Pisa e a Monalisa
E o Mickey Mouse e o Big Ben
I wonder if you think of me assim também!

E te ver é sempre uma alegria
Mas na tua ausência I miss you till I die
E lá vou eu from major to minor
Everytime we say goodbye...

E porque sempre que te encontro
You do something to me
Fico pensando em minha vida –
Sem você, what should it be?

Você preenche meus sonhos e meus devaneios acordada
Night and day you are the one
Não consigo desejar mais nada
Only you beneath the moon and under the sun...

Então, se birds do it, bees do it, even educated flees do it
Why not, nós dois, devagarinho...
Let’s do it, let’s fall in love, só um pouquinho!

(Sempre me ponho na vida a rimar português com english words
Os versos são mancos...
Coração não combina com heart, nem amor com love...
Também fora do papel, nada combina com nada, but the feelings flow...
Por que tanta complicação?
I look for the answer in the skies above and in hell below...
Como chamar esse sentimento estranho?
Como transformar, dentro de mim, versos brancos em alexandrinos
Hai-kais em sonetos
Dissonâncias dodecafônicas em perfeita harmonia?

Que será dessa voz desafinada que soa em mim
E deseja,
E desafia?)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

(quase) haikais




azul e verde se misturam:
é mar que o céu reflete
ou olhos que se procuram?




há uma estrela junto à porta
celeste ou marinha
pouco importa – é minha!




num fio elétrico da cidade
o pássaro cinza
canta com serenidade


Elipse

De onde teria surgido aquele bicho? Sem que sua presença lhe desse motivo suficiente para levantar do sofá, percorreu com os olhos todas as vidraças, a porta. Esticando o pescoço, tentou avistar a janela do banheiro. Tudo fechado. Elevou e abaixou os ombros, tentando relaxar a musculatura cervical. Arregalou bem os olhos, para se certificar de que não se tratava de uma dessas ilusões que nos acometem na penumbra. Não era. Ele estava mesmo lá, aquele gato.
A única iluminação da sala vinha dos neons que piscavam na rua lá em baixo. Tons avermelhados e azuis se projetavam na parede em efeito estroboscópico. Na penumbra, o gato parecia acinzentado, talvez um pouco castanho. O que chamava atenção eram seus olhos enormes, verde-claros, quase amarelos. Pareciam acesos. Esse bicho não pisca? Parecia uma estátua de gesso, ou uma imagem de cera do museu da madame... madame o que, mesmo? Não se lembrava.
Um arrepio de desconforto percorreu-lhe as costas. Não se lembrava disso também... Do que mais já teria esquecido amanhã? Rememorou o próprio nome, a idade, o nome da mãe, do pai, das irmãs, evocou mentalmente seus rostos. Era sempre um alento recuperar aquelas fisionomias familiares. O RG, o número do telefone e o endereço eram dados que levava já escritos num papel, para o caso de se ver em algum lugar inusitado sem saber por qual caminho chegara lá.
O gato se moveu. Lento e sensual, aproximou-se e esfregou a lateral do pequeno corpo na mão que pendia do sofá. Num impulso, fez-lhe um carinho. O gato parou e virou-se, parecia olhá-lo diretamente nos olhos. Num salto, foi aninhar-se em seu peito. Desde quando estaria ali? Não se lembrava de jamais ter tido um gato. Mas, nas circunstâncias atuais, isso não significava muito.
Desde que a perda começara, sentia como se o espaço da vida viesse se estreitando mais e mais. O maior problema era a não-linearidade do processo. Semanas se passavam com tudo intacto. E num dia qualquer, sem aviso, uma nova lacuna. Era assim que imaginava a doença progredindo: um buraco a mais aberto em seu cérebro. Neurônios mortos silenciavam para sempre a informação lá contida. O neurologista lhe dissera que não era bem assim, que havia um tipo qualquer de comunicação entre as células, os tratos, as vias... não entendera bem. Pouco importava, aliás. Era ele, o médico, quem precisava saber de neurologia. Para si próprio, visto de dentro, o que vivia era a experiência desagradável de imaginar o próprio cérebro se esburacando progressivamente. E o desespero de constatar a progressão do apagamento da própria história. Sou a soma de tantos quantos conheci.
Na mesinha lateral, o espinho maior. A foto no porta-retrato era de um rosto lindo, uma jovem morena, cabelos caindo no ombro, um sorriso largo de quem sabe o que é ser alegre. Quem era? Há dias se fazia a mesma pergunta. Há dias? Talvez muito mais do que dias... Quanto tempo já passara? Não sabia. Numa provocação, aquele olhar reiteradamente perguntava: como você pode esquecer? E a dor no peito agudizava a vontade de chorar. Ou de desaparecer.
Um fio discreto de lágrima escorreu-lhe pelo canto externo dos olhos. Já estivera assustado, desesperado, já se deixara tomar pela raiva. Agora, apenas triste. Talvez o gato fosse mesmo seu, afinal. Pensou em lhe dar um nome, mas logo se deu conta de que isso de nada adiantaria, pois na manhã seguinte já não se lembraria dele novamente. Tentou abraçar o felino que, sentindo-se privado de sua liberdade de movimentos, pulou para o chão e deitou-se debaixo da mesa.
O vizinho de cima começou seu estudo de piano. Como sempre, ele tocava à noite. Não tentou decodificar a música, o que seria esforço vão. Deixou-se levar em escalas, no crescendo e decrescendo dos sons puros de teclas apertadas uma a uma. O piano é um instrumento de cordas percutidas. Como essa, várias lembranças disparatadas acudiam-lhe repentinamente: o número atômico do carbono é seis. Transforma-se o amador na coisa amada, por virtude do muito imaginar... Como continuava? De quem era o poema? Buracos.
Tomou o retrato da moça para vê-la mais de perto. Se fotos tivessem cheiro... O neurologista lhe dera algum motivo racional para justificar que a memória olfativa era a última a se perder. Já não se lembrava da explicação, mas gostou de supor qual perfume viria daquele corpo feminino e jovem, atraente, sedutor. O cheiro de pêssegos maduros se misturando ao café recém-coado nas manhãs de natal, o conduzia à casa da avó. Uma certa água de colônia que recendia a lavanda e alfazema o punha, menino, no colo da mãe. Mas aquela moça...
Certamente a teria amado. Não teria ali em plena sala uma foto sorridente de quem não lhe tivesse tido importância. Mas, além da conjetura, não conseguia progredir. Onde? Como? Quando? Tudo esquecido. Percebeu, com horror, que de certo modo não conseguia tampouco evocar a lembrança do próprio amar. Supor tê-la amado já não lhe provocava sensações... do quê? Somos mesmo seres emoldurados em pensamento. Perdidas as idéias, as palavras, perde-se também um tanto do frêmito que anima o corpo. E a dor no peito voltou, pior.
O gato circulava pela sala com sua habitual discrição. De quando em quando parava, encarava-o. Gatos eram animais sagrados no Egito antigo. Balançou a cabeça: e daí? De que serve uma idéia sem conexão com o contexto da idéia? Dom Afonso Henriques. Briófitas são vegetais avasculares. Trocaria de bom grado essas memórias inconvenientes por uma informação: de quem era aquele rosto? Que história teriam compartilhado? Que palavras haviam trocado? Que carinhos?
Fazia calor. Suava. Ergueu-se, lento e silencioso como o gato, e abriu completamente o vidro da janela ampla da sala. O ar entrou fresco e sentiu diminuir o cheiro de ambiente fechado que já se tornara imperceptível para suas narinas habituadas. Lá embaixo, muitos carros, postes de iluminação antigos, preciosidades do centro velho, os neons, as buzinas. Da janela de cima, o piano em exercícios contínuos e monótonos. Sequioso por ar puro, o gato também se aproximou da janela. Parecia adivinhar-lhe os pensamentos. Talvez quisesse lembrá-lo de que só os gatos têm, supostamente, sete vidas.
Já pensara nisso tantas vezes! Tirou a foto do porta-retrato, enfiou-a por dentro da camiseta, junto ao corpo. Inspirou uma quantidade grande de ar, depois esvaziou lentamente os pulmões para que o corpo ficasse mais pesado. Peso igual a massa vezes aceleração da gravidade. Corrigiu-se: mais pesado não, mais denso apenas. Densidade igual a massa sobre volume. Seria hoje.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Paisagem Marinha I



Como os navegadores de outros tempos,
Que só se orientavam por estrelas e luar,
Vou, olhos vendados, minhas mãos nas tuas,
Soltando-me às ondas prá que me conduzam
Na misteriosa rota que é aprender a amar...

Partindo sem saber qual era seu destino
Galeões perdidos, sem mapas, descobriam terras...
Assim, perplexa, também eu descubro o novo mundo
Na confiança cega, no risco de quem se entrega...

Há algo em mim que é novo e que renasce...
Surpresa, me deparo com a luz e a claridade...
Ofuscada, a princípio me embaraço
Mas, aos poucos, em nova vida perco o medo
Chego mais perto, desejo, abraço...
Aos fantasmas que me assombram já não cedo...

No espelho do mar infinito vislumbro meu sorriso
Há tempos enterrado nas areias do silêncio...
Saber te amar, tão livre, já me basta
Ainda que mais deseje, hoje de nada mais preciso...




Canção





Cecília Meireles




Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

[Cecília Meireles (1901 - 1964) escreveu seu primeiro poema aos 9 anos de idade.Espectros (1919), seu primeiro livro de poesia, tinha ainda tendências parnasianas. Nos seguintes, Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923) e Baladas para El-Rei (1925), já aparecem elementos simbolistas. A partir de 1922 aproximou-se das vanguardas modernistas, principalmente dos poetas católicos. Em 1938 ganhou o Prêmio de Poesia, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo livro Viagem. Nos anos seguintes, conciliou à produção poética os trabalhos de professora universitária, tradutora, conferencista, colaboradora em periódicos, pesquisadora do folclore brasileiro. Publicou também poesia infantil, onde se destada Ou Isto ou Aquilo. A Academia Brasileira de Letras concedeu a Cecília, postumamente, o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra, em 1965. Destacam-se em sua obra: Vaga Música (1942), Mar Absoluto e Outros Poemas (1945), Retrato Natural (1949), Doze Noturnos da Holanda & O Aeronauta (1952), Romanceiro da Inconfidência (1953), Canções (1956), Poemas Escritos na Índia (1961), Metal Rosicler (1960) e Solombra (1963). ]

Eternamente




“Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!...”
Pablo Neruda





Primeiro veio a escuridão. Depois, o frio. Em seguida, o silêncio absoluto. Difícil explicar o que sou agora. Já não posso me chamar um ser. Curiosamente, e contra todas minhas próprias expectativas, há consciência nisto que me tornei. Há também memória, e um vago senso de orientação espacial. Por isso sei que estou em movimento. Há um pouco do que foi meu corpo em volta disto que em mim pensa, e navega neste mar como nau de contornos imprecisos. Já não há mais células. Apenas átomos e eventuais moléculas de complexidade inferior a das proteínas. Por que misterioso mecanismo se agrupam assim, como cardume invisível, não sei dizer. É assim, constato.

Esta consciência que tenho, entretanto, não é contínua. O último instante de luz foi no encontro de olhares doces. Há, então, um lapso e depois isto: o resto material de mim agrupado ao redor de pensamentos, dissolvido em água. Cinzas no mar, meu desejo reiteradamente expresso. E agora estou aqui, dissolvida e livre.

As correntes me submetem a temperaturas várias. As frias, mais agradáveis. Sempre preferi o inverno ao verão, e não compreendo onde em mim carrego tal preferência atualizada. Trago também outras lembranças em bagagem impalpável: gosto de chocolate, sons de piano, medo de barata. Nenhuma dor. Cada uma de nossas dores, só a sentimos uma vez. Amontoamos nossos momentos dolorosos no arquivo morto do existir, e só é possível acessá-los a partir das contingências: onde, quando, de que modo. Dor e tempo devem provir da mesma substância, são feitos para passar. Ambos irrecuperáveis.

Neste modo inusitado de estar no mundo, já não sou mais refém do tempo nem do espaço. A ausência de forma é de uma liberdade insuspeita! Vou, sem contornos, levada pelo movimento ordenado das marés. Irei, talvez, ao acaso, e jamais haverá porto em que termine esta jornada. Curiosamente, entretanto, tenho a intuição de que sigo orientada por alguma misteriosa força, numa rota que parece pré-traçada. Não tenho bússola, mapa nem telescópio. Não posso ver terras nem céu. Mas sinto a presença das estrelas sobre as águas, sobre mim. Sei da lua refletida branca, e do sol que doura a superfície nas manhãs. Sei sem ver. Sinto-os. E também as rochas, os recifes de corais, as pequenas ilhas. Vou, ainda que difusa, sem esbarrar em nada que me pulverizasse. Uma nuvem de matéria dispersa leva de mim o que eu nunca acreditei que permanecesse além do momento último.

Pensar, sentir, saber sobre o que não vejo – tudo é uma inesperada novidade. A vida inteira sofri de incerteza. Anos a fio, iludida pela falsa certificação dos sentidos: o que há é o que eu vejo, ou ouço, ou palpo. Enxergo-te, logo existes. Grande equívoco, pois, entre o que se vê e o que de fato há, cabe um universo de possibilidades. Procurei tanto tempo pela certeza de mim através da certeza do amor dos que me cercavam... quanto desperdício! Desperdício de tempo, de sofrimento e, sobretudo, de amor. Podia ter dado melhor destino ao meu amor, se soubesse fazer, viva, isto que a natureza, ou a tão questionada divindade, faz por mim agora: guia-me, qual criança brincando de cabra-cega, e já não tenho opção, senão confiar completamente nessa força que predetermina meu caminho.

Descubro que é preciso prescindir do corpo para compreender o verdadeiro sentido da entrega. O corpo não se pode entregar por completo, nem permanentemente. Mesmo no momento de maior amor, dois corpos podem estar em proximidade infinitesimal, mas continuarão a ser dois. Há a barreira da pele separando, intransigente, o dentro e o fora. Apenas o desejo é que se funde. E tal aproximação não dura mais que minutos. Mesmo se somarmos todos os minutos assim passados ao longo de uma vida, será pouco, em comparação com o tempo do corpo só. Agora, assim descorporificada, sinto a ânsia de outra entrega. É ela que me impulsiona, que gera o movimento. Desejo em estado puro, energia que carrega consigo a matéria desconexa, que ainda assim perfaz um todo, algo que já não sou mais eu, mas que traz do que fui a partícula fundamental e inominada. É desse ponto apenas, dessa posição definida no espaço, que emana o impulso: um não-sei-quê de busca e querência, que se dirige, decidido... para onde?

Sou incapaz de dizer se vou devagar ou rápida, se a direção que sigo me põe a norte ou a sul de onde estava antes. Sei apenas que avanço. E, à medida que vou, sinto-me mais fortemente impulsionada, como se entrasse agora num campo magnético que transforma o que antes era anseio, em atração irresistível. Numa vertigem prazerosa, deixo-me levar na profundeza das águas, e suponho que o aglomerado de partículas que me compõe trace no azul desenhos originais e móveis. Não sei se tenho cor, mas me sinto também azul, ou verde, tons do mar com cuja transparência me confundo.

A partir de certo ponto, há calor. Não sei se ele vem de mim ou da vastidão marinha que me cerca. Há nesse aquecimento algo de conforto e familiaridade. Deixo-me embalar no colo das águas e, tivesse eu ainda olhos, certamente choraria de emoção transbordante. Estranhas memórias, desprovidas de imagens, me trazem de volta pessoas que amei. Pessoas que, como eu, já não têm corpo, mas cuja presença é inconfundível. Carinho inunda. Conjeturo que este poderia ser o ponto final desta viagem. Aqui ficaria bem, em suaves companhias.

Há, entretanto, entre esse emaranhado de fios condutores de energia e afeto, um que se isola dos demais, se sobressai não por ser maior, nem melhor. Apenas diferente. Único.

Imediatamente, identifico-o. Como não? Tantas vezes nossos caminhos se cruzaram! E, em todas, houve não um conhecimento, mas um reconhecimento, não um encontro, mas um reencontro. A primeira vez se perde na poeira da história.Temos estado juntos sempre... Mesmo quando os percursos ou as escolhas aparentemente nos afastaram. Mesmo quando amamos, verdadeiramente, outras pessoas, e pudemos semear assim um pouco de amor num entorno cinzento. Estivemos juntos quando, num momento qualquer de uma noite indefinida, acordamos simultaneamente, cada qual em sua latitude, e tivemos a mesma impressão mágica de estar um ao alcance do toque do outro. E sinto-me simultaneamente surpresa e não surpresa por estarmos agora aqui, renovadamente juntos, nesta condição sem nome.

As águas em volta agitam-se em redemoinho, e na vertigem das vagas gigantes sinto-me espalhada, mais do que nunca dispersa, e paradoxalmente coesa e completada. Não é mais só minha a substância que se dissolve. Há, de fato, algo além da simples solução. Há um frenesi de partículas que se combinam, e se ligam, e se fundem, e rodopiam no movimento das ondas como numa dança inebriada. Não há corpos, não há bocas, mas fazem-se abraços e beijos, toques ternos e soluços. Faz-se amor. Há um grito de felicidade que não se produz, pois é muda a matéria inerte. Libera-se nesta reação a mais intensa energia. Uma explosão. Plenitude. Luz. Eternidade.

***
O mar quebrando nas falésias e o céu noturno azul marinho compunham o cenário para o jovem casal enamorado.
- Você viu?
- O quê?
- O clarão em cima do mar... parecia uma estrela cadente ao contrário.
- Uma... o quê?
- Uma estrela ascendente... Você não viu, um brilho subindo?
O rapaz, não muito interessado nesse tipo de eventos astronômicos, abraça ainda mais fortemente a moça:
- O único brilho que vejo vem dos teus olhos.
E depois não disseram mais nada, nem viram mais nada, totalmente alheios ao fato de que naquela noite nascera, bem ali, diante deles, uma nova estrela.