Marcia Szajnbok
Pálpebras pesadas, olhos ardendo
Todo o corpo quer dormir menos o pensamento:
Trechos do dia, diálogos, cenas
Imagens, flashes, momentos
Passagens, buzinas de engarrafamento...
Pensa alto, pensa caótico
Autômato
Independe da vontade, se rebela, escapa
Deseja, imagina, fantasia
Aguça no corpo todos os sentidos...
Cria fatos, supõe lembranças, articula soluções
Conta seqüências estranhas, repassa obsessivas canções...
E enquanto isso a hora passa.
Lá fora, uma sirene atrai-lhe por segundos:
Polícia? Bombeiro? Ambulância?
Os vários relógios da casa batem desencontrados
Desse compasso binário das batidas do coração
Todo o corpo, toda a cama, todo o quarto
O mundo todo vibra em cadenciada ressonância...
O corpo fica comprimido por esse imaginário ruído
E cansa.
E o pensamento pensa, pensa, pensa...
Tece novelas, antecipa poemas, sonha acordado
– o que haveria esta mulher de sonhar dormindo? -
Ferozes assassinatos, doces cenas de amor infindo...
Olhos fechados, já não há limite entre o que ouve e imagina
O mundo povoado por fantasmas
Mortos queridos, culpas, remorsos
Inusitadas sombras atrás das cortinas...
Taquicardia – quem ousaria abrir os olhos?
A angústia cresce, exaure o corpo que pede paz
E se vira, e se mexe, e se estica, e se dobra
E parece dez vezes maior do que era antes de deitar.
Tem ímpetos de levantar-se
Acender luzes, ler, tomar um vinho...
Mas nada faz, emudece, fita o teto sem piscar
E se percebe, derrotado, mero refém das idéias
Que o conduzem, impotente e inerte
Por tão tortuoso caminho, por tão pedregosa estrada.
Insônia é isso: entrega total ao mundo do pensar
Onde há uma vida de vale-tudo
Que recobre o curto intervalo
De uma infinita madrugada.
2 comentários:
O mundo todo vibra em cadenciada ressonância...
O corpo fica comprimido por esse imaginário ruído
E cansa.
E o pensamento pensa, pensa, pensa...
(Que coisa linda...)
To viciado no teu Blog...
Abração
Alfredo
Adorei esse texto li mais de uma vez ja adicionei seu blog nos favoritos!
Parabèns
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