quarta-feira, 23 de setembro de 2009

transparências

luz baça de manhã nublada

na quase primavera
as palavras ficam assim
distorcidas de vítreos efeitos
tão translúcidas e brancas
que ninguém pode dizê-las

mas o olhos
seres autônomos e encantados
movem-se como bússolas, imantados,
e captam o brilho oculto das estrelas
'

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

excesso

há tanto!
como pesa o mundo...
coisas demais
muitas imagens
ruídos e luzes demais

demasiadas palavras
recobrindo
todos os tempos
excessivos sentimentos
debulhando
o novo e o antigo

diante de tanta demasia
vou me apequenando
pulga
ponto
partícula sub-atômica
condenada aos prótons
de castigo

rarefeita nessa blablablação
bem queria salvar o mundo
proteger-me e protegê-lo
conter heroicamente a tagarelice hemorrágica
pôr bandagens de silêncio
sobre as bocas abertas e desesperadas
fazer-me útil, amada do mundo

...
mas o mundo, amigo,
não está nem um pouco preocupado comigo...

'

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

novos tempos


tempo de preces ou mero querer
dias doces, de luz e esperança

tempo de deixar a memória correr
nos sons indistintos da primeira infância

algo que toca e fala outra língua
abraços e cheiros de longa distância

a semente ancestral na primavera germina:
que sejamos inscritos no livro da vida!

Shaná Tová!
'

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

(e)terno sentir

distância que não separa
toque sentido em imagem e palavra
um beijo ficou retido entre os lábios e a espera
e o corpo assim desfeito retorna a outro tempo
qual quimera...
brilho nos olhos, puro anseio
sonho de união tão permanente
que liga, atemporal, almas sedentas
de um amor assim tão transcendente
que em lutas e doçuras bem supera
dias, mares e destinos
e que, quando prestes a apagar, já reacende
e em chama única se entrega
fruto de razão e desatino
'

domingo, 13 de setembro de 2009

sílabas



terça-feira, 8 de setembro de 2009

zoom



numa rua da cidade do país do mundo
a casa

no canto da gaveta do armário do quarto
a caixa

no coração cristalino envolto no papel de seda
a concha

espalhados pelas reviravoltas calcárias do antigo caramujo
o ser

pura espera
anseio estático

o momento feito eternidade

que chegue logo o sapo
o príncipe
que venha logo
a mordida ácida ou o beijo

qualquer movimento
que seja
que faça
liberdade

'
fonte da imagem:http://media.photobucket.com/image/molusco%20microscopia%20eletronica/philipe3d/bolamaluca.jpg

terça-feira, 1 de setembro de 2009

cores rindo colorindo

quando o inverno urbano envolve o mundo
em cinzenta monotonia
ponho-me a procurá-la
em qualquer canto ou no fundo
da memória, da bagunça da sala
ou do álbum de fotografia
em alguma célula ou recanto
de uma crista de mitocôndria
misturada ao que recordo de infância
bolinhos, risadas, um dia na praia,
sinto-a surgindo, primeiro nos olhos
depois nos ouvidos
enchendo-me pouco a pouco
a alma de melodia,
cujas cores em aquarela
se diluem na garoa fria
e, de repente, quando menos espero,
dou com ela:

minha alegria
'