sábado, 31 de outubro de 2009

verbo

há larvas
de palavras
em meio
à lava fulva
que há
para lá
da fala
eflúvia

para tê-las
tira as luvas
suja as mãos
abre o ouvido
deixa-te o corpo
queimar
no não-sentido
`

domingo, 25 de outubro de 2009

verso (im)preciso


como fosse preciso
esculpir o corpo pétreo
riscava a faca e canivete
um arremedo de sorriso
um esgar que podia ser grito
ou máscara crispada de dor

músculos, nervos e vasos
tudo perfeito e imóvel
estátua contida na angústia
de ver a vida lá longe
indo em vagas aos tropeços
empurrada pelos ventos
amordaçada em torpor

como fosse inexato
o dizer do que sonhava
jogava a semente palavra
na terra ferida e na água
salgada de mar e de lágrima
que palavra germina no sal
no ar, no sangue e no nada

corpo todo rabiscado
por dentro pelos sons rimados
desfez-se em ditos não feitos
evaporou em silêncio
transformada em cor e perfume
e tudo que dela restou
foram uns versos imperfeitos
murmurados pelo vento
esquecidos com o tempo
`
imgem: nascer do dia visto de um vôo entre Curitiba e São Paulo, Marcia Szajnbok

domingo, 18 de outubro de 2009

vitória


quem me dera
ter coragem
e essas asas abertas
para lançar-me
incerta
da vitória ou do fracasso
jogar-me assim
nos braços
do amanhã que nem sei

quem me dera
essas pernas
esse tronco
e a transparência
da alma em pedra
a incandescência

quem me dera
ir além

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

primeiros socorros

A MOR
A DOR MECE
A DOR
A MOR DAÇA

A MOR
A MOR TECE
A DOR

A DOR PASSA

`

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

há fim


tudo escuro
cinza e preto
tudo morte
tudo azedo
tudo sofre
tanto medo
tanta dor
tanta doideira
tudo fica
estagnado
lodo e lama
empoçado
fumaça espessa
asfixia
o ar pesado
a agonia

quem liberta?
quem consegue
atravessar
a porta aberta?
ir andando
ir para a frente
ir seguindo
a corrente
até que passe
até que finde
o tempo dado
a estadia

até que reste
só o tato
mesmo sem mãos
sobre o abraço
mesmo sem corpo
fique o calor
em nossas almas
reste amor
'