quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

POEMA PARA O ANO QUE NUNCA É NOVO

o tempo segue
indiferente e indomável

o tempo passa, apenas
não sabe de nós
nem dos números
ou das eras, dos modos de produção,
das guerras

não sabe das lembranças
ignora saudades
aromas, infâncias

as marcas que temos
são nossas marcas,
não marcas do tempo

o tempo é o tempo
mais nada

ele vem, incontinenti
enquanto ficamos,
um pouco sempre os mesmos,
e a cada dia diferentes

um dia, desapareceremos
e o tempo continuará
para sempre
em frente




terça-feira, 20 de dezembro de 2011

MOLLUSCA





- o que tem dentro da concha?

- nada, nada... o bicho morreu...


- mas se a concha é coisa viva,
onde o bicho se escondeu?


- não 'tá escondido, menina,
lá dentro só tem o ar!

- eu acho que isso é mentira...
ouve só o barulho do mar...


...
...
...



menina grande tem outros olhos
recusa oásis, despede os sonhos


menina grande por fora, o corpo
envelhecendo em rugas
cabelos branco, falta de sono


enquanto isso, dentro da concha
menina grande fica pequena


deixa-se levar, solitária e plena,
pela música suave
das marés inexistentes