abro a caixa
e olho os ovos
perplexa,
encontro o mutante:
em meio às
formas perfeitas,
o ovo
assimétrico tem arestas
pontas,
espículas, cicatrizes
o ovo que
não é oval me desafia
interpela a
ordenação calma da caixa
e a minha
pelo simples
fato de existir
aquele ovo
me paralisa
me provoca
e, por fim,
desperta em mim
algo
disforme
inclassificável
e extemporâneo
tomada de
movimentos insuspeitos,
renasço,
eu-ave de asas frágeis,
eclodo e voo
deixo para
trás a casca e o mundo
observo, lá
de cima e sorrindo,
a vida sem
cores e muda
anterior ao
encontro
do
inesperado ovo