domingo, 17 de março de 2013

DE VOLTA AO MAR



um pouco farta da neblina
ou da miopia, talvez
um pouco descrente
de qualquer possiblidade-lente
que confira alguma nitidez
ao que se vê ou se ouve ou se sente
ao que se quis ou se disse ou se fez

um pouco farta de sombra
de interferência e ruído
preferia mesmo um silêncio
todo escuro ou branco inteiro
um momento inerte, um fim
que desse à mente um descanso
e ao corpo um limite, um contraste
entre os nãos semiditos e o sim

farta, farta de tantas palavras
e gestos e toques e olhares
recolhe-se à concha o molusco
faz-se de morto e espera
que a corrente agitada dos mares
se aquietem ou apenas se cansem
se deixem estar – calmaria –
e o acabem levando a  uma praia
em meio a areia e espumas
e restos de algas e sonhos
na luz rósea do nascer de algum dia



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