segunda-feira, 29 de abril de 2013

SENTIDOS


sol das tardes de outono
aquecendo, iluminando
desenhando sombras listradas
venezianas projetadas

janela ampla, chão de tacos
manta xadrez, franja vermelha
ruído distante: crianças brincando
o olhar passeia enquanto
a alma imagina
outras vidas noutros quartos
noutras casas
noutros mundos

tudo isso alinhavado pelo aroma
do café recém coado
do pão fresco com manteiga
da água de colônia
com perfume de lavanda ou alfazema

sol da tarde nos outonos
banhando atemporalmente as paredes:
vira o tempo do avesso
reconstrói a menina perplexa
perdida entre as ideias e as sombras
imersa na mistura dos sons domésticos
da música, do rádio
da voz da mãe
- da voz macia, da voz-abraço da mãe




domingo, 21 de abril de 2013

(pós) ÓPERA (tório)




o fio roto esconde as pontas
espalhadas pelo chão
irrecuperáveis contas

fazer de miçangas de corpo
umas letras sem palavras
não há sutura que dê conta

há um hiato entre a boca e o mundo
nuvens anestésicas de silêncio absoluto

das gargantas sopranas arregaladas
ecoa o som ausente: nada