segunda-feira, 29 de abril de 2013

SENTIDOS


sol das tardes de outono
aquecendo, iluminando
desenhando sombras listradas
venezianas projetadas

janela ampla, chão de tacos
manta xadrez, franja vermelha
ruído distante: crianças brincando
o olhar passeia enquanto
a alma imagina
outras vidas noutros quartos
noutras casas
noutros mundos

tudo isso alinhavado pelo aroma
do café recém coado
do pão fresco com manteiga
da água de colônia
com perfume de lavanda ou alfazema

sol da tarde nos outonos
banhando atemporalmente as paredes:
vira o tempo do avesso
reconstrói a menina perplexa
perdida entre as ideias e as sombras
imersa na mistura dos sons domésticos
da música, do rádio
da voz da mãe
- da voz macia, da voz-abraço da mãe




Um comentário:

Fry, from Futurama disse...

Mesmo não sendo adepto de paraíso, céu, ou qualquer derivação procedente de uma crença e/ou religião, esse texto carrega uma experiencia preciosa; que carrega ao leitor rumo a um encontro de pequenas coisas que estão longe do nosso alcance nessa panacéia toda.

Ler esse texto nos arrebata a crer no céu, sim. Mas, em um tipo despido de crença e que tem nuvens recheadas de geléia com o cólo e proteção dos que sempre amamos em nossa vida.