elas vêm e
vão
contínuas e
arrítmicas
heraclitianamente
sempre
outras,
as ondas
elas pulsam
em doce
espuma
ou ríspidos
soluços
cacos,
restos
grãos de
areia
sempre
outros
sempre novos
misturados
ao que já é
velho e quebrado
cascalhos,
crustáceos mortos
algas
invisíveis
folhas
imprevistas
de
improváveis plantas nem sempre aquáticas
em pernas de
siri sem corpos
varrem a
praia
clandestinos
insuspeitos
águas-vivas
sem história
espinhos de
ouriço sem dor
sem passado sem
lembranças
moluscos
baços
furtacor
as ondas vêm
e vão
desde
quando?
sempre,
sempre...
quase
pendulares
longe e
perto e longe e perto
num embalo musical
e hipnótico
a vida e a
morte ali
tão perto
uma e outra
sempre tendo
como intersecção
mítica
apenas a suposição
do incapturável
tempo