segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ONDAS




elas vêm e vão
contínuas e arrítmicas
heraclitianamente
sempre outras,
as ondas

elas pulsam
em doce espuma
ou ríspidos soluços

cacos, restos
grãos de areia
sempre outros
sempre novos misturados
ao que já é velho e quebrado

cascalhos, crustáceos mortos
algas invisíveis
folhas imprevistas
de improváveis plantas nem sempre aquáticas
em pernas de siri sem corpos

varrem a praia
clandestinos
insuspeitos

águas-vivas sem história
espinhos de ouriço sem dor
sem passado sem lembranças
moluscos baços
furtacor

as ondas vêm e vão
desde quando?
sempre, sempre...
quase pendulares
longe e perto e longe e perto
num embalo musical e hipnótico

a vida e a morte ali
tão perto
uma e outra sempre tendo
como intersecção mítica
apenas a suposição
do incapturável
tempo


Um comentário:

Ari Pedro disse...

as ondulações do tempo...