elas se acumulam
empilhadas
apertam-se umas às outras
proliferam
multiplicam-se em progressão geométrica
me atordoam, as palavras
elas vêm em jatos
jorram
inundam cada fresta de silêncio
com restos de idéias digeridas
expulsam a música, as ondas, o vento
são gulosas, as palavras
queria um dia - um só dia -
viver livre delas
de seus sons, de seus rumores
ouvir-me emudecida
atenta ao ritmo das vísceras
atenta exclusivamente à melodia do corpo nu
despido de letras
ou à cadência do mar
desprovido de rimas
imagem: juquehy (sp), marcia szajbnok