terça-feira, 1 de junho de 2010

redemoinho


viria bem um pouco de silêncio
uns momentos de calmaria pacífica
como águas ordenadas e azuis
ou areias plácidas sem vento
paisagem presa na imobilidade
sem tempo

seria bom o contrário do brusco
o oposto da dor ou do grito
umas horas de delicadeza suave
de toque sutil, de sussurro
de olhar repousado no infinito

seria justo suprimir o suplício
atenuar rugas, recobrar sorrisos
seria lindo recuperar o abraço
a alma tão certa do encontro
lançar-se em flâmeos no abismo

viria bem suspender as lembranças
calar a voz rouca que de outrora ecoa
congelar a saudade mortífera
que condena os corpos ao sacrifício

seria bom encontrar a saída
do labirinto de sombras
que teima em retornar
continuamente ao início


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imagem: Marinha - Seascape, Rogério Santana
fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGh1c_u56MZ9ULP5wTtkVE4nViKcM0JwqB7z6ASZzMKwiU-LOlwEoOB0aCr8IexzdnkJrzgU17hOVGrU5n6ChBGHkXywBKKMzO1QUgWopkfCz81KXxobM0hNWq-alQ_ugEF37Ql5NSYa0/s1600/mar+verde0001.jpg

quarta-feira, 19 de maio de 2010

outono

um pouco frio
um tanto cinza
dia baço, casmurrento

não sei se quero
não sei que faço
lá fora chove
eu seco por dentro

palavras nubladas
deixam-me, fogem...
melhor é soltá-las
que vaguem ao vento!

como pedra, resto
um pouco perplexa
dessa mudez calma

como água, fluo
sem porto, sem nexo
o outono na alma

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

sem


ausência é nada

e ainda tudo
buraco sem fundo
escuro e mudo
sem tempo e eterno
o agora confunde
nunca mais para sempre
inesgotável murmúrio

ausência é só
ausência é onde?
é fome, é pó
na estrada infinita
onde a procura avança
é sempre mais longe
ali nunca está
no vasto vazio
o eco responde:
desesperança

ausência é fim
é o último ponto
dentro de mim

ausência é a morte do sonho


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fonte da imagem:http://deltacat.blogs.sapo.pt/arquivo/original_empty_room.jpg