sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ismália



Alphonsus de Guimaraens


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


[Afonso Henriques da Costa Guimaraens, nasceu em Ouro Preto (MG), em 1870 e faleceu em Mariana (MG), em 1921. Bacharelou-se em Direito, em 1894, em sua terra natal e colaborou em vários jornais, mineiros e paulistas, desde os tempos de estudante. Seu primeiro livro de poesia, Dona Mística, (1892/1894), foi publicado em 1899. Outras obras incluem "Kyriale" (1902), e as publicações póstumas "Pauvre Lyre" (1921), "Pastoral dos Crentes do Amor e da Morte" (1923), "Poesias" (1938). Fez parte do grupo simbolista de São Paulo e sua poesia é marcada pela espiritualidade. Admirador de Cruz e Souza e influenciado por Verlaine, também apresenta melancolia e ternura. A morte de sua noiva Constança, em 1888, marcou profundamente sua vida e sua obra, e é tema recorrente.]


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