sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Anjos


Marcia Szajnbok


Sussurra o anjo:
- Olha! Ouve!
E o olhar pousa obediente e a escuta de uma voz se faz...

A vida passa, estranha e imprevista
Destino e desejo se compõem
Tecem juntos ímpares figuras
Tingem os dias, fabricam o tempo...
O encontro mais improvável
Na mais banal das esquinas do espaço
O instante fortuito que produz revolução
E no mesmo gesto instaura a paz...

Sussurra o anjo:
- Ama!
E o coração bate tão forte que acorda o mundo...

A realidade é conforme os olhos
Corpo e alma, sensação e pensamento
Vagando, qual fantasmas, existentes e etéreos...
Um sorriso, um beijo, o gesto simples
Que faz receber a mão, outra mão...
Numa faísca se produz um ser:
O que era puro ideal, suposição
Faz-se matéria num segundo.

Sussurra o anjo:
- Vem comigo!
E o coração pára, o olhar se apaga, cessa todo o movimento...

No instante último há de aparecer o sentido
O divisor de águas entre o mero passar e o real existir...
Recebe a morte em paz
Aquele que soube viver e dar-se...
Desfaz-se o corpo, viaja a alma
Mantêm-se eternas as sementes
De amor salpicadas no infinito.


Imagem: Asas de Anjo, de Miguel Claro
fonte da imagem: http://artedemiguel.home.sapo.pt/quadro%20asas%20de%20anjo.jpg

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