domingo, 10 de agosto de 2008

Soneto


Menotti del Picchia


Soneto! Mal de ti falem perversos
que eu te amo e te ergo no ar como uma taça.
Canta dentro de ti a ave da graça
na gaiola dos teus quatorze versos.

Quantos sonhos de amor jazem imersos
em ti que és dor, temor, glória e desgraça?
Foste a expressão sentimental da raça
de um povo que viveu fazendo versos.

Teu lirismo é a nostálgica tristeza
dessa saudade atávica e fagueira
que no fundo da raça nos verteu

a primeira guitarra portuguesa
gemendo numa praia brasileira
naquela noite em que o Brasil nasceu...



***



Paulo Menotti del Picchia, poeta, jornalista, político, romancista, contista, cronista e ensaísta, nasceu em São Paulo, SP, em 20 de março de 1892, e faleceu na mesma cidade em 23 de agosto de 1988.Teve papel de destaque no movimento modernista e foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo (1922). Além das atividades literárias, produziu ainda pinturas e esculturas. Formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo (1913), ano em que publicou seu livro de estréia, Poemas do Vício e da Virtude. Pertence às Academias Paulistas e Brasileira de Letras, para a qual foi eleito (1943) para ocupar a Cadeira 28. Embora tenha incursionado por vários gêneros literários, é a sua poesia que destaca o sentido nacionalista do Modernismo, do qual foi precursor o seu poema nacional Juca Mulato (1917). A sua origem estética, no entanto, ainda é o Romantismo, que é evidente em sua poesia pela grandiloqüência e floreios verbais.


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