Marcia Szajnbok
Queria te escrever uma carta
Que não fosse de despedida
Que, antes, fosse mesmo de chegada,
De começo, de ponto de partida,
Onde eu pudesse, amigo, te propor
Este meu jeito estranho de definir amor:
Norte na bússola dos sentimentos,
Referência a cada um desses momentos
Em que alguém se sente engolfado pelo vendaval dos acasos...
Companhia doce, terna, absolutamente especial
Nas cotidianas banalidades que chamamos vida-real
Alegres champanhes, ternos abraços, tristes silêncios...
Um tanto de desejo, de suave intimidade
Construída sobre o sólido pilar da liberdade:
A confiança absoluta em si mesmo e no outro
A ponto de não se preocupar se é muito ou pouco...
Grandeza sem medida, sem espaço ou tempo
Que no instante derradeiro, na presença clara da morte,
Nos sirva de conforto, justificativa e alento...
É tênue a fronteira entre amor e amizade,
Mera linha pontilhada feita de fumaça
Que esmaece tanto mais quanto mais o tempo passa...
Sentimento sem nome, toca o real
Sentimento sem tempo, portanto eterno
Nem grande nem pequeno, já que absoluto...
(Certamente Fernando Pessoa tinha razão:
Todas as cartas de amor são ridículas, a minha não é exceção.
Mas, afinal, amar não é também essa espécie de flagelo
Em que se mostra o ridículo, esperando que o outro enxergue o belo?)
Um comentário:
Muito linda a poesia. Quem sabe esses sentimentos que despontam na vida tão indizíveis não são as respostas que quebram as rochas cotidianamente imutáveis?
Postar um comentário